Ambiente de Paulo

O Ambiente de Paulo

Paulo estava consciente de que devia três  lealdades temporais. Como jovem judeu, ele recebera educação ministrada apenas aos jovens de futuro e foi educado aos pés de do grande mestre judeu, Gamaliel. Poucos podiam se orgulhar de ter mais instrução do que Paulo no que dizia respeito à educação religiosa judaica e poucos se aproveitaram tanto quanto ele na educação que recebeu ( Fp 3:4-6). Era ele também cidadão de Tarso, a principal cidade da Cicília, “cidade não insignificante” (At 21:39). Era também cidadão romano livre (At 22:28) e não tinha duvidas em usar os privilégios de sua cidadania romana quando estes privilégios podiam ajudá-lo  em sua missão por Cristo ( At 16:37; 25:11)

O judaísmo foi seu ambiente religioso anterior a sua conversão; Tarso foi sal grande universidade e sua atmosfera intelectual, o palco dos primeiros anos de sua vida; e o Império romano foi o espaço político em que viveu e agiu.

Este ambiente político  não parecia Sr tão favorável a alguém para a proclamação do evangelho. César Augusto provocou a decadência da República, exceto para a política, quando estabeleceu em 27 a.C. uma diarquia em que dividiu nominalmente o controle do estado com o senado. Infelizmente, seus sucessores não tiveram a habilidade nem a moral de Augusto e governaram mal. Calígula (37-41) esteve louco durante parte de seu governo; Nero (54-68), sob quem Paulo foi martirizado e a Igreja enfrentou sua primeira perseguição, era um homem cruel e sanguinário que não titubeou em matar seus próprios membros da família. Entretanto, Cláudio (41-54) foi um excelente administrador e o Império conseguiu se estabilizar em seu governo. Foi em sua administração que Paulo fez a maioria de suas viagens missionárias.

A situação moral e social era mais assustadora do que a política. A pilhagem do Império criou uma classe alta rica de novos aristocratas que tinham escravos e dinheiro para satisfazer seus muitos desejos legítimos e ilegítimos. Esta classe desdenhava de certo modo a nova religião e viam seu apelo às classes pobres como uma ameaça à sua pregação do Evangelho feita por Paulo na prisão em Roma (Fp 1:13)

Paulo enfrentou também a rivalidade de outros sistemas de religião. Os romanos eram de certo modo ecléticos em sua vida religiosa e se dispunham a tolelar toda a religião  desde que não proibisse seus seguidores de participar no culto do Estado, que misturava o culto ao imperador com o velho culto do estado republicano e exigia  a obediência de todos os povos do Império exceto aos judeus, que por lei eram isentos destes rituais. Aos cristãos não se concedeu tal privilegio e  eles tiveram que enfrentar o problema da oposição do Estado. As religiões de mistérios subjetivistas de Mitra, Cibele e Ísis pediam a associação de muitos outros no Império.O judaísmo, de quem o cristianismo foi distinto como seita separada, enfrentou uma oposição cada vez maior.

Os intelectuais romanos aceitavam os sistemas filosóficos, como o Estoicismo, o Epicurismo e o Neo-pitagorismo, que sugeriam a contemplação filosófica como o caminho da salvação. O estoicismo , com sua interpretação panteísta de Deus, sua concepção e leis éticas naturais descobríveis  pela razão e sua doutrina da paternidade de Deus e fraternidade do homem, parecia dar um fundamento filosófico para o Império Romano. Alguns imperadores, como Marco Aurélio (161-180), aceitaram suas formulações éticas.

Paulo teve que enfrentar este confuso cenário religioso com o simples Evangelho redentor da morte de Cristo. A Arqueologia nos ajuda a datar pontos-chaves na vida e obra de Paulo. Paulo esteve em Corinto 18 meses quando Gálio tornou-se procônsul ( At 18:12-13). Uma inscrição em pedra, descoberta em Delfos, menciona que Gálio começou seu trabalho na Ásia no 26° ano de Claudio, que foi 51 ou 52 d.C Outras datas em sua vida podem ser calculadas a partir desta acuracidade.

A conversão de Paulo foi também um evento histórico objetivo. Ele falou dela como tal em ICo 9:1 e 15:8 e em Gl 1: 11-18. Ela aconteceu no seu encontro com Cristo na estrada de Damasco (At 9:22;26) Esta experiência foi vital para seu trabalho missionário, seu escritos e teologia.

Trecho do livro Cristianismo Através dos Séculos (EARLE.E.CAIRNS pg 49-51)